Porão H: Malévola (Maleficent)

Contos de fadas sempre exerceram um certo fascínio em nossas vidas, nos propondo os primeiros heróis e vilões, para que tivéssemos uma base para nossos sonhos e futuros ideais na vida.

Estes contos são todos adaptações de historias mais antigas, que tinham na sua época o mesmo proposito, porem a versão de felizes para sempre, veio fazer parte de nossa cultura através dos desenhos de Walter Elias Disney para criação de seu mundo de fantasia.

O mundo de Disney por assim dizer, sempre nos trouxe ideias sobre uma época de otimismo e de coisas boas, onde seus sonhos poderiam se realizar, adaptando assim inúmeras historias dos famosos contos de fadas e fabulas, para uma formula mais familiar e por que não rentável financeiramente.

Mas agora os tempos são outros e de certa forma aqueles meninos e meninas, cresceram e se tornaram adultos, as vezes amargos, por descobrir que a vida não é um conto de fadas, provando assim que não entenderam a moral das historias ou não procuram conhece-las de verdade.

Nestes últimos anos, o mundo de fantasia de Disney, nos cinemas, vem apresentado versões diferentes dos grandes clássicos da fantasia, passando pela viagem psicodélica pelo mundo de Alice no Pais das Maravilhas e sua continuação Alice Através do Espelho, as aventuras uma magico charlatão que passa por dilemas morais em OZ: Magico e Poderoso, mas sua produção mais interessante ate agora fala sobre a maior vilã de todos os tempos, a Malévola.

Malévola foi a primeira grande vilã da infância de muitos, e antes de ser um nome próprio é mais um termo aplicado as pessoas verdadeiramente maliciosas, ou como é conhecida na cultura pop, a senhora de todo ao mal. Porem ao pesquisar, vemos que no conto Sol, Lua e Thalia, de Giambattista Basile, que serviu de base para os contos de Charles Perrault e dos irmãos Grimm, da Bela adormecida, tal personagem nem é mencionada direito, mas seu papel foi crescendo através do tempo em que recontaram a historia, cada qual ao seu modo, chegando na versão atual como a conhecemos através dos desenhos da Disney.

Nesta nova versão, a historia visa resgatar as origens, do conto de fadas e mostrar a jornada de uma personagem em seu despertar e espero que com este texto, possa trazer um pouco de luz sobre este fantástico filme, através de seus mitos e lendas, presentes em todas as culturas

A historia inicialmente nos apresenta dois mundo, o mundo dos homens, ao mostrar um lugar desolado e um tanto triste onde as pessoas vivem seu dia a dia, lutando para sobreviver as sombras de poderosos, como é evidenciado pelo grande castelo em uma planície. Em contraste a este mundo, somos apresentados ao mundo dos Moors, palavra esta liga as Morias, divindades do destino, e aos mouros, povo de etnia islamita da idade media, mas aqui mostrados como reino dos espíritos da natureza Uma terra idílica, onde vivem seres fantásticos devotados a preservar e cuidar da natureza.

Neste mundo conhecemos uma jovem fada anjo chamada Malévola, mas acredito que nesta fase o nome dela era outro, como por exemplo Ilitia Cloto, fazendo referencia um dos vários nomes dados as três deusas do destinos, como a que inicia a historia ou o incio fio condutor da mesma. A personagem possui inúmeras referencias como, a sua ligação o com a natureza, nas roupas que possuem tons marrons e verde, nos seus longos cabelos, a sua ligação com a liberdade, por causa de suas asas e a ligação com uma percepção elevadas das coisas em seus cornos/chifres. Por uma certa ignorância e incompreensão, nos associamos da simbologia de cornos/chifres ao demônio e consequentemente a coisas más, e isso pode afastar muitas pessoas deste filme, porem é só pesquisar e saberão que muitos personagens da própria bíblia, foram descritos e retratados com cornos/chifres, sendo uma referencia aos chakras que se encontram nas laterais da cabeça, associado a elevada percepção e dignidade. Assim desta forma percebemos que a nossa protagonista representa a ideia de um ser acima das convenções do bem e do mal como nos o conhecemos e através de sua jornada que iremos explorar tais questões.

Nesta jornada ela conhece o jovem Stefan, um humilde serviçal, que se perde no mundo dos Moors e rouba uma pedra preciosa. Em um dialogo bastante interessante, vemos algumas coisas sobre apego e desapego, sonhos e ideais, deste personagem. Ao se despedirem, a menina queima sua mão ao entrar em contato com o anel de ferro do menino, revelando que é a unica coisa que a pode ferir, fazendo aqui uma clara referencia ao poder de destruição que o ferro teve durante a historia humana. Apos este primeiro contato os dois se tornam amigos e passam por dias felizes no reino dos Moors, e esta amizade cresce junto com eles se transforma em cumplicidade e amor. Porem o que cada um esta destinado a ser, parece pesar nas decisões do rapaz que se afasta da vida da moça, fazendo com que ela fique sem compreender o porque dos humanos sempre optarem por magoar a si mesmos e os outros.

Os anos passam e Malevola cresce em beleza e poder, e assume a proteção de seu povo contra a crescente ambição dos homens pelas riquezas de seu reino. Aqui podemos chama-la de Artemis Laquesis, divindade protetora da natureza, e vemos ela sempre a postos sobre o que acontece nas fronteiras da terra encantada. É interessante notar seu olhar um pouco triste para planície desolada frente ao castelo, mas como vemos ela não medira esforços pra frustrar os esquemas do rei, derrotando sempre habilmente seu exercito sem nenhuma baixa de ambos os lados. Porem o rei, apos a ultima derrota, propõem que a matem e que quem conseguir sera o novo rei. Para nossas surpresas vemos que o serviçal pessoal do rei é Stefan e o próprio vislumbra o passo final para realizar o seu desejo de ser o senhor do castelo.

Acredito que Stefan se afastou de Malévola, pois começou a ver na mesma alguém que era bem superior a ele, sendo livre e nunca passando por necessidades, ao passo que ele era só um serviçal, e nisso cresceu em seu coração uma ambição de se tornar poderoso, para poder ser livre e senhor de seu destino, não muito diferente de muitos que já passaram ou passam por estas questões.

Sabendo que outros também almejavam esta conquista, Stefan vai ao encontro de Malévola como firme proposito de mata-la, porem ambos lembram do passado e de como era bom, e todo de ruim por isso foi deixado de lado, porem no coração do rapaz as duvidas só aumentam quando vê a oportunidade perfeita quando ela adormece, mas acaba não tendo coragem para matar ela, ele decide cortar suas asas e as leva para o rei como prova Malévola esta morta.

No dia seguinte, ao acordar Malévola sente um dor imensa, ao perceber que suas asas fora arrancadas, mas a dor maior que ela sente é na alma por ter sido violada sua inocência e pela perda de sua liberdade. Se sentindo confusa e envergonhada parte para os limites do reino para pensar, e em suas caminhadas solitárias, encontra e salva o corvo Diaval, que em divida com ela, se oferece para ajuda-la, ao manter ela sempre informada sobre o que acontece no reino. Assim ela descobre que Stefan foi proclamando rei e então se autoproclama rainha do Moors, mas diferente do rei dos homens, que fica escondido em seu castelo, ela continua protegendo as fronteiras de seu mundo sozinha.

Apesar da aparente paz, quando é anunciado que o rei dará uma grande festa pelo nascimento de sua filha, Malévola vê nisso oportunidade de tirar dele algo preciso, alem de humilhar o monarca pelo que ele fez. Adotando um visual que remete as cores negras de luto e ausência de seus longo cabelos, indicando despego e renuncia ao seu antigo ser, podemos chama-la aqui de Hecate Átropos, divindade ligada magia e a consumação do destino, ao determinar que a filha do rei Aurora ou no original Thalia, ao completar seu decimo sexto aniversario, ira furar o dedo em um fuso de fiar e dormira para sempre até que receba o beijo de um amor verdadeiro.

O rei tenta então de todas a formas, impedir que o destino de sua filha seja cumprido, tentando de todas as maneiras lutar contra forças alem de sua compreensão e acaba ficando louco, numa alusão as pessoas que tentam a todo custo lutar contra o destino.

Já Malévola continuou em seu caminho, não negligenciando suas funções como protetora da natureza contra os homens, mas avida por acompanhar a vida de Aurora, a quem ela com o tempo cuidou todo o tempo protegendo a menina, enquanto esta crescia. Nesta fase notamos que suas roupas adquirem referencias aos repteis simbolizando sua regeneração apos os infortúnios da vida.

Aurora aqui representa o despertar de uma nova compreensão em Malévola que ao se afeiçoar a menina tenta remover ele do destino ao qual ela foi imposta, e então percebe que apesar da humanidade se encontrar perdida em sua luta contra o destino, não deve ser deixada de lado e abandonada, mas sim protegida e instruída sobre coisas de natureza superior para que a mesma conquiste sua liberdade. Aurora por sua vez quer abraçar esta visão do mundo e decide quando atingir a maioridade deixara o mundo dos homens. Mas o destino começa a agir e ela se sente atraída por um rapaz e ao falar de seus planos para suas tias fadas, elas contam sobre o destino que foi imposto a ela que foi imposto a ela, ficando desolada ao saber que a pessoa a quem chamou de fada-madrinha e demonstrou sempre ter carinho com ela tenha feito algo de ruim e assim traído a confiança da moça.

Assim a moça parte para o castelo de seu louco pai, para tentar compreender as coisas e acaba sendo aprisionada pelo mesmo, já que ele sabe que Malévola vira atras dela, e é o que ela faz levando o jovem que a Aurora se sentiu atraído para quebra do feitiço.

O interior do castelo, demonstra o inteiro de um alma corrompida onde tudo em oprimido e se encontrar preso, sufocado, somente com poucos resquícios de luz, representado todo domínio da maldade humana. Mas Malévola e Diaval conseguem entrar no castelo, resolver a questão do destino da moça de uma forma muito bonita e diferente do conto da fadas original, e decidem então sair daquele lugar onde tudo em escuro e sombrio. Porem nem chegam muito longe e Malévola e presa numa rede feita e cercada por cavalheiros com armaduras e armas de ferro, lembrando nesta sequencia a ideia do terror bélico das grandes nações ao tentar oprimir pela força seu inimigo e a reação deste na medida para evitar o confronto. No meio da confusão com Diaval sendo transformado em dragão para proteger Malévola e a Aurora, a mocinha percebe que pode salvar sua fada madrinha e encontrando suas asas, devolve a liberdade perdida a vilã/heroína da historia. Desta forma Malévola derrota o rei louco e devolve a paz ao reino ao coroar Aurora como nova rainha.

A produção do filme e muito boa com efeitos especiais muito bem feitos que complementam muito bem a fantasia, assim como o cuidado nos figurinos e maquiagens.

Todos os atores estão bem em seus papeis, com destaque para Sharlto Copley, como Stefan o rei louco, Sam Riley, como o corvo Diaval, Elle Fanning como Aurora, e Angelina Jolie, como Malévola.

Angelina Jolie consegue criar uma personagem incrível ao dar a ela uma fragilidade, que em determinados momentos nos fazem lembrar a fragilidade feminina diante da opressão masculina, mas também confere a personagem uma força para se superar e não se deixar consumir pelas coisas ruins, fazendo com todos gostem dela.

Recomendo este filme, como uma ótimo drama com aventura, onde os mitos e lendas antigas, se misturam a realidade, em uma historia sobre uma das maiores personagens da ficção e que vamos aguardar ansiosos sua continuação.